entrelaçamentos pelo corpo
Observar o corpo na presença dos outros e deixar com que a mágica aconteça, sem que as palavras racionalizem ou moralizem os momentos.
Semana passada eu estava na aula de inglês online e a professora nos dividiu em duplas, em pequenas salas virtuais para uma atividade. Pela 1a vez eu estava com a Sumaia. Ela nasceu em Istambul, Turquia, usava seu hijab (lenço ou peça de pano usado para cobrir a cabeça das mulheres), mora aqui no Canadá há 4 anos e tem dois filhos com as mesmas idades que os meus.
Ao cumprimentá-la e olhar profundamente em seus olhos, eu senti um vazio no meu corpo. Eu conseguia sentir as batidas do meu coração e uma sensação estranha no estômago. Ela parecia aflita, triste, sufocada. Falei que talvez antes de fazermos as atividades, poderíamos falar um pouco de nossas experiências como uma oportunidade de nos conhecermos. Com a voz trêmula, ela me fez a 1a e única pergunta: você sente saudades do seu país de origem? Respondi: “Sinto muitas saudades. Do cheiro, das paisagens, dos barulhos, das cores, da temperatura, das pessoas, e as vezes até de mim mesma.” Não deu tempo para devolver a pergunta, porque suas palavras escorriam por seus olhos como um rio desaguando com força e derrubando as barragens da saudade que a sufocava.
Ao pisarmos neste chão em comum das saudades, choramos juntas mantendo nossos olhos direcionados uma a outra como forma de cuidado. Eu experienciava uma outra forma de existir para além da definição das palavras. O silêncio dizia muito mais, já que a fala não alcançava a grandeza do sentir. Percebi que perguntas simples e profundas dão luz para sentimentos adormecidos. Estes mesmos sentimentos adormecidos que causam desconforto e nos afogam por dentro, também são os mesmos que nos proporcionam encontros em direção a empatia. São os que nos aliviam quando deixamos desaguar o rio agitado que há em nós.
Após alguns instantes as lágrimas já não escorriam na mesma intensidade e rimos. Ríamos talvez por notar que não haviam fronteiras entre nós e por reconhecer que percorremos por lugares semelhantes, mesmo que indizíveis. Fiquei com a impressão de que a gente precisa se permitir conhecer outros seres através do corpo. Observar o nosso corpo na presença dos outros e deixar com que a mágica aconteça, sem que as palavras racionalizem ou moralizem os momentos.
Aspiro que floresçam em nós, muitos encontros decorrentes da profundidade e simplicidade das perguntas e, menos das respostas impressionantes, assertivas e delimitadoras.
Experiência sensorial na aula sobre vida, que a minha professora denomina como aula de yoga : )
Recentemente tivemos uma prática de yoga com os olhos vendados. Divido aqui um pouco do que reverberou em mim.
Experienciei a luz e a sombra juntas, sem que um ofuscasse a beleza do outro. O preenchimento pelo excesso e o vazio de notar a importância daquilo que parece dado e pouco regozijado.
O desconforto da ausência e a alegria de perceber outras partes de mim ganhando vida. A não distração de estímulos externos e, o notar da confusão aqui dentro.
Perdi a concentração na escuta e improvisei com o que era possível. Senti o medo de cair e esbarrar, e a coragem de me experimentar de dentro pra fora. Achar que não ia dar conta e apreciar as tentativas.
Divertir-me nas oscilações e em desconfiar-me quando achei que havia conseguido algo. Senti o peso do meu corpo sem conseguir levantar as pernas e, ao mesmo tempo notei a leveza em respeitar meus limites.
Eu pude experimentar a vida como ela é: irregular, meio torta, balançando, oscilando, dançando entre as extremidades, persistindo, desistindo, caindo, levantando …. E vendo que é possível sentir tudo isso como caminho. Rir de si, não pelo o que viu de engraçado, mas o que sentiu ser engraçado e a própria condição humana. Embora estivesse sozinha na sala, de olhos fechados eu pude sentir as pessoas do meu lado na mesma dança e balanço.
De olhos fechados a perfeição deu espaço para um oferecer mais honesto. Uma lapidação que vem de um interesse e não por uma busca de reconhecimento. Uma atenção em viver o momento. Uma desatenção a tudo que nutre a falta.
Saí com a sensação de querer chegar nas pessoas fechando os olhos e perguntando: adivinha o que está a sua frente? Ao abrir, possivelmente as cores estariam mais vivas, as pessoas mais reluzentes, os pássaros mais vívidos, os sorrisos mais largos… me segurei para não fazer isso. Com certeza me achariam louca e ao mesmo tempo, não será este tipo de loucura que precisamos para descobrir o quanto há de amor e apreciação borbulhando em nós ?!
Talvez, todos nós deveríamos observar a ausência, para sentirmos a potência do que já está disponível dentro da gente.
Se você está em busca de uma prática para refinar uma linguagem amorosa e lúcida com o corpo (e mente), aconselho fortemente conhecer a Andressa Sampaio e seu perfil no Instagram: @yoganidre. Prática Sensorial - Andressa Sampaio
Movimentos incríveis por aí….
PodCast Coemergência
#73 Experiências sensoriais como saída para corpos esgotados (com Danilo Patzdorf)
Este episódio está maravilhoso! E como escrevi aqui sobre sensações e sentires; fiquei com uma vontade gigante de dividir esta conversa profunda, sensível e provocativa.
Danilo em seus estudos chegou a hipótese de “que sofremos em grande medida por conta do distanciamento com a nossa dimensão estética, sensível e sensorial, o que fragiliza nossa capacidade de perceber e enfrentar aquilo que nos tira energia e que nos impede de dar sentido à existência” (retirado da descrição do Episódio)
Além deste episódio, o Coemergência tem outros sensacionais, que é até dificil escolher um que seja “o preferido”. A cada um que escuto, vou acumulando preferidos. Super recomendo!
Palavras que chegam como abraços….
Travessias
“travessias é uma newsletter interativa idealizada por Bruna Próspero Dani e co-realizada pela Bambual Editora, que é dedicada a publicação de livros e projetos para a transição global.”
A Bru traz reflexões profundas e urgentes. Tem um playlist maravilhoso de músicas para nos inspirarmos. Dicas de livros, entrevistas e negócios que impactam positivamente o nosso planeta. Super recomendo!
Clique Aqui para ter acesso e apreciar.
Obrigada por me ler até aqui e, se estas palavras fizeram algum sentido para você e acha que pode fazer para alguém, por favor, compartilhe.
Com carinho,
Pri
Fui lendo, lendo, me envolvendo, rindo, anotando... e que surpresa ver a travessias por aqui! <3 obrigada querida!